Sunday, November 19, 2006

Veredas



Minha alma carrega um lado sertão. Esse espírito múltiplo abarca a faceta erma das distâncias sem fim, das veredas tortuosas, dos vales verdejantes, das chapadas ao longo do horizonte infinito, das nuvens alvíssimas sob o céu azul, do silêncio e de todas as três margens do rio.... tudo, tudo na mesma contraposição à cidade, meu lado citadino, meu anonimato, a vida sendo quase sempre um quase em relação ao outro, a intersubjetividade feita de temores e amores. As esquinas, os becos, os carros fumegantes, Copacabana, os botecos nas calçadas, a festa com estranhos e ela, deusa cosmopolita, sacerdotisa de todos os assuntos, fêmea generosa e lânguida, feliz em sua melancolia urbana. Às vezes trago o sertão para o asfalto, às vezes levo as esquinas para as florestas. É esse vaivém que me transforma em deus e me tece percepções sutilíssimas, sobretudo acerca do meu não-ser, do meu não-estar no mundo — esse universo construído arbitrariamente —, da minha condição de quase inexistente, que só respira no limbo entre o sertão e a cidade.

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mariposas: Veredas