Wednesday, June 11, 2008

Mariposas (fragmento)



Depois que você se foi, uma saudade leve me invadiu e permaneceu no constante. Talvez um perfume que tenha ficado nas fronhas onde deitaram os seus cabelos chanel, ou nos lençóis que abraçaram suas alvas curvas, cheias de veias azuis. Talvez o silêncio ecoando sem a voz adolescente e rebelde, desafiando quase tudo que se afirmava. Essa ausência é uma dor igualmente suave, que se instala sob a pele por obra da memória afiada, que traz com nitidez os nossos dias e noites de torpor e carícias.

Agora que você desapareceu sem vestígios, para sempre nas funduras do mundo, anda mais do que nunca presente, em cada esquina do meu quarto, em cada sonho que me embala. E nosso encontro, que desde ontem era sem amanhã, que nunca fora de louvor em verso e prosa, se escreve agora, no depois, nessas linhas, em minhas entranhas, como uma ausência esquisita. Uma musa que não se fez no quando.

Naqueles dias vivemos o comum. Nos aninhamos e sorvemos um ao outro, sem planos, sem desejo, só prazer, como nos versos do poeta Manduka. Apenas aquele brincar sem limites, a alegria de descobrir todos os seus segredos. Assim, fui seu herói por aqueles tempos fugidios que poderiam ter sido o que nem imagino no hoje, quando você vem com insistência nas instâncias mais banais da lembrança. E assim, sem alarde, sem explosões apaixonadas, você se instala no definitivo do meu ser como aquela, que, de todas, é a que perdura em mim, no suave, no constante, no real.

7 Comments:

Blogger ricardo leite said...

muito bom, memórias que vêm e ficam, né paco?
já não estou no rio, vim para são paulo faz umas duas semanas, agora você tem de vir até cá...
vamos, mesmo assim, trocando leituras e comentarios.
abraço

7:37 PM  
Blogger ipaco said...

Pois é, Ricardo. Estou devendo uma ida a Sampa já há muito tempo. Vamos ver se depois da defesa da tese...

abração

7:50 AM  
Blogger Canto da Boca said...

Ela percorre toda a geografia da memória, tua?
Sabe que fiquei cantarolando baixinho aqui: "Se vc fizer uma radiografia da sua vida, verá com certeza quem sabe com um certo espanto, eu apareço, do tornozelo ao pescoço, eu apareço... Estou gravado, cravado na sua sua espinha dorsal..."
Radiografia: Zeca Baleiro e Vanessa Bumagny.
Grande abraço.
;)

4:03 PM  
Blogger ipaco said...

Pois é, a memória... que delírio poderoso...

beijim

1:05 PM  
Blogger Canto da Boca said...

É o espaço onde tudo acontece de novo. Risos.
;))

P.S.
Sou uma indisciplinada. Sempre!

5:45 AM  
Blogger Canto da Boca said...

(Talvez seja a mais saborosa forma de equilíbrio que jamais experimentei. Risos.)

3:13 PM  
Blogger ipaco said...

É vero. o equilibrio que vem do aconchego amoroso.

9:09 AM  

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