Fera

Manipulação sobre foto de Yves Noir
Tem dias em que, cervejado e destemido,
atravesso as brumas que camuflam,
sob as estrelas, a cidade de monóxido.
E, embora suas sombras me protejam,
nesses momentos de sangue e álcool
me exponho ao olhar selvagem da felina
que me espreita de becos e esquinas.
Consciente da precisão de seu assalto
deixo o vento me delatar a seu olfato.
Espero seu ataque de unhas e dentes,
que me engula com todas as suas bocas,
que me traga morte violenta e ardente
e me transforme em cinzas de um instante,
mas que me deixe intacta a idéia de coração.
Rio, outubro de 2005
2 Comments:
Travestir-se em "cordeiro expiatório" e deixar-se imolar, assim submisso, por todas as bocas femininas - e são tantas - em morte violenta e lacerante, onde reste apenas a idéia: foi comido, mas ficou o romance...
Penso que todo homem, por mais escroto, canalha e cafajeste que seja, no fundo, no fundo, alimenta este desejo: ter sua "casca grossa e grosseira" devorada, até que sua essência mais profunda - romântica e delicada - seja revelada.
Só um monstro-fêmea tem o dom de fazer isso...
Concordo totalmente. É uma coisa atávica.
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